A October Gallery tem o prazer de apresentar “Nature Morte”, uma nova exposição individual do talentoso artista contemporâneo Eddy Kamuanga Ilunga, oriundo da República Democrática do Congo. Nesta quarta mostra solo na October Gallery, Kamuanga utiliza suas impressionantes pinturas para explorar as consequências ocultas dos resíduos tóxicos que estão envenenando o meio ambiente, do qual as comunidades locais congolesas dependem para a sobrevivência e as necessidades básicas da vida.
Esta mais recente série de obras é uma mescla magistral de narrativa e simbolismo, onde cada tela contribui para o desenvolvimento de uma narrativa compartilhada que desvela um dilema nitidamente moderno. Diferente das séries anteriores de Kamuanga, que investigavam questões históricas decorrentes da escravidão e dos legados duradouros da expansão colonial, estas pinturas retratam uma cena de berçário contemporânea repleta de brinquedos de plástico, cadeirinhas de bebê e todos os apetrechos que indicam a chegada de um recém-nascido. No entanto, cada personagem parece fixado de maneira apática nos objetos coloridos, porém sem vida, que representam a ausência de uma criança, a única figura vital cuja presença poderia conferir significado às diversas mises-en-scène. O título da exposição, “Nature Morte” (Fr. literalmente ‘natureza morta’), geralmente é traduzido para o inglês como ‘still life’ e descreve retratos de objetos inanimados dispostos para exibição. Dada a intensa concentração da mãe e dos outros membros da família ao redor da cadeirinha do bebê e da pilha de brinquedos intocados, o termo assume implicações mais perturbadoras, sugerindo que o bebê ausente nasceu morto ou faleceu recentemente.
O drama quase surreal que se desenrola diante de nossos olhos traz à tona a história traumática de exploração da RDC por potências estrangeiras até o momento presente. A atenção do artista moveu-se além das histórias horríveis do controle colonial belga para a situação contemporânea, onde as potências neocoloniais mais uma vez afirmaram controle sobre a vida das pessoas comuns do Congo. Para atender às demandas insaciáveis da indústria de computadores e das instalações de produção de baterias “verdes”, empresas internacionais estão atualmente envolvidas na rápida extração dos ricos recursos minerais do Congo, especialmente cobalto, cobre e coltan. Atualmente, mais de 40% da capacidade de mineração de metais pesados do país é controlada por empresas chinesas, adicionando um tom irônico aos acessórios de plástico baratos e à face ‘fofa’ do Panda que aparece em pinturas como “Red Energy”.
Há muitos anos, relatos perturbadores de desmatamento, poluição do solo por derramamentos de águas residuais, contaminação da água potável e restrição de movimentos das populações locais tornaram-se cada vez mais comuns. Os impactos nocivos dos processos de mineração industrial na produção de alimentos, na saúde humana e na biodiversidade local estão bem documentados, especialmente em Katanga, na região central da RDC, de onde os pais de Kamuanga têm suas origens.
Com suas peles marcadas por padrões intricados de circuitos digitais, as figuras de Kamuanga atuam como testemunhas involuntárias da constante colisão entre os mundos opostos do ancestral e do moderno, do local e do global. As pinturas detalham o terrível custo em vidas humanas que nossas incessantes demandas por tecnologia moderna impõem às vítimas invisíveis, presas nas consequências da mineração em escala industrial que pouco considera a destruição ambiental e a degradação humana. Sobrecarregadas pelo peso esmagador da história, as figuras icônicas de Kamuanga carregam as cicatrizes de uma nação que luta para navegar nas águas traiçoeiras da exploração neocolonial, juntamente com a erosão de um patrimônio cultural incapaz de proteger o meio ambiente natural que, anteriormente, a nutria e sustentava.
Datas da exposição: 14 de novembro de 2024 – 25 de janeiro de 2025.