A Fascinante Onda do True Crime: Desvendando o Gênero que Conquistou o Brasil
A Fascinante Onda do True Crime: Desvendando o Gênero que Conquistou o Brasil

A Fascinante Onda do True Crime: Desvendando o Gênero que Conquistou o Brasil

07/04/2025 8:13 AM EDT

Acompanhamos com crescente apreensão e curiosidade as narrativas que desvendam os meandros de crimes reais. Seja em conversas informais, em podcasts viciantes ou em séries documentais aclamadas, o gênero true crime se consolidou como um fenômeno cultural no Brasil e no mundo. Histórias de assassinatos chocantes, fraudes elaboradas e mistérios intrigantes capturam a imaginação do público, gerando debates acalorados e reflexões profundas sobre a natureza humana e a sociedade em que vivemos. Este artigo se propõe a explorar as diversas facetas desse gênero fascinante, desde sua definição e evolução histórica até as razões de sua popularidade, as questões éticas que suscita e seu impacto em nossa cultura.

O Que Define o True Crime Documental?

No cerne do gênero true crime documental reside a exploração de eventos criminosos que de fato ocorreram. Diferentemente das narrativas ficcionais de crime, os documentários de true crime se dedicam a detalhar as ações das pessoas envolvidas e afetadas por esses eventos, buscando investigar as motivações por trás dos atos criminosos. Essas produções podem se apresentar como antologias, explorando diferentes casos em cada episódio, ou adotar um formato serializado, aprofundando-se em um único caso ao longo de vários episódios. No Brasil, o interesse pelo tema é evidente, com diversas produções e discussões sobre o que configura o true crime.  

A essência do true crime reside em seu fundamento na realidade, o que o distingue das narrativas criminais fictícias. O apelo a eventos reais é um aspecto fundamental de seu fascínio, pois evoca um tipo diferente de engajamento no público em comparação com histórias inventadas. A combinação de reportagem factual com elementos de narrativa, que por vezes incluem dramatizações baseadas em relatos publicados, cria uma experiência de visualização única, capaz de ser tanto informativa quanto envolvente. O debate em torno do uso de reconstituições ilustra a tensão entre a busca pela precisão e a necessidade de tornar o conteúdo visualmente cativante. A crescente popularidade do gênero sugere uma mudança cultural no consumo de mídia, com um apetite cada vez maior por conteúdo que explora os aspectos mais sombrios do comportamento humano e da sociedade.  

Entre as principais características dos documentários de true crime, destaca-se o foco em eventos criminais autênticos. Embora sua natureza seja essencialmente não ficcional, algumas produções podem incorporar cenas dramatizadas com base em informações já divulgadas. A investigação minuciosa do crime, das pessoas envolvidas e das possíveis motivações dos perpetradores é um elemento central. Frequentemente, esses documentários abordam crimes violentos, como assassinatos e a atuação de serial killers, tanto em casos de grande repercussão quanto em ocorrências menos conhecidas. O estilo de apresentação pode variar entre o jornalístico, com ênfase nos fatos apurados, e o especulativo, no qual o autor apresenta suas próprias conclusões sobre o crime. A diversidade de formatos é outra marca do gênero, podendo ser apresentado como filmes únicos ou como séries de televisão, com narrativas que se concentram em um único caso ou que oferecem uma coletânea de histórias distintas. Nas últimas décadas, a popularidade dos documentários de true crime tem experimentado um crescimento notável. A utilização de reconstituições de cenas criminais é um ponto de debate, com alguns cineastas optando por não as incluir, argumentando que elas não representam a verdade. A significativa presença do gênero em plataformas de streaming, como a Netflix, demonstra seu sucesso e o investimento contínuo nesse tipo de programação. No contexto brasileiro, artigos e discussões online também exploram as características que definem os documentários de true crime.  

Uma Breve História: Das Origens à Mania Atual

A história do gênero true crime documental revela uma evolução significativa ao longo do tempo. Embora o artigo não forneça um histórico detalhado e exaustivo, ele destaca alguns aspectos importantes e obras influentes. Formas iniciais de narrativas de true crime existiam na literatura, como panfletos e folhetos na Grã-Bretanha entre 1550 e 1700. Essas publicações cobriam assassinatos e outros crimes, atendendo à crescente alfabetização da população. Nos Estados Unidos, a biografia de Henry Tufts em 1807 é apontada como possivelmente o primeiro relato extenso de um criminoso americano.  

O estilo moderno e novelesco do gênero true crime é frequentemente creditado à obra A Sangue Frio (1965) de Truman Capote. Este “romance de não ficção” é visto como um trabalho fundamental que trouxe maior lucratividade ao gênero. Em termos de mídia visual, os documentários de true crime têm visto uma presença crescente nas últimas décadas. Um dos documentários mais influentes mencionados é The Thin Blue Line (1988) de Errol Morris. Este filme, juntamente com outros, às vezes utiliza reconstituições, embora isso seja um ponto de controvérsia entre os cineastas. O início da década de 1990 testemunhou um aumento de filmes de true crime em Hong Kong, variando de filmes gráficos a produções mais mainstream. Mais recentemente, as redes de televisão a cabo nos Estados Unidos dedicaram parcelas significativas de sua programação ao true crime, com canais como Investigation Discovery e Oxygen (que se dedicou totalmente ao true crime em 2017) se tornando proeminentes. O Court TV, antes de sua reformulação como TruTV, também apresentava programação de true crime. Serviços de streaming como a Netflix também contribuíram para a popularidade do gênero com séries como Making a Murderer (2015), levando a um maior investimento em conteúdo de true crime. O artigo também lista vários outros documentários de true crime proeminentes, incluindo Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills (1996), The Jinx, The Sons of Sam: A Descent Into Darkness, The Keepers, Don’t F**k with Cats: Hunting an Internet Killer e Evil Genius. No Brasil, a página da Wikipédia dedicada ao gênero também oferece uma visão sobre sua evolução.  

A evolução do gênero, desde as primeiras manifestações literárias até os impactantes filmes e séries de televisão, e o recente crescimento nas plataformas de streaming, demonstra como os avanços tecnológicos e as mudanças nos hábitos de consumo de mídia moldaram a trajetória do gênero. A influência de obras marcantes como A Sangue Frio e The Thin Blue Line sugere que certas narrativas e estilos foram particularmente impactantes na formação do gênero.

Os Favoritos da Tela: Documentários de True Crime que Marcaram Época

O gênero true crime documental é vasto e diversificado, com inúmeros exemplos notáveis que capturaram a atenção do público. Entre eles, destaca-se Don’t F**k with Cats: Hunting an Internet Killer (2019), uma minissérie que acompanha a busca online por um homem que postou vídeos de si mesmo matando gatos, explorando o tema da justiça virtual e da perseguição de criminosos pela internet. O.J.: Made in America (2016) narra a ascensão e queda de O.J. Simpson, cujo julgamento por assassinato expôs as tensões raciais nos Estados Unidos, abordando temas como raça, celebridade e o sistema judicial americano. Making a Murderer (2015–2018), filmado ao longo de dez anos, acompanha a história de Steven Avery, um homem exonerado por DNA que se torna o principal suspeito em um novo crime, levantando questões sobre injustiça criminal e corrupção policial. The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst (2015–2024) examina a vida do magnata imobiliário Robert Durst, suspeito em uma série de crimes não resolvidos, explorando temas de mistério e riqueza. Lover Stalker Killer (2024) apresenta a história de um triângulo amoroso online que toma um rumo mortal, abordando a obsessão e os perigos dos encontros virtuais. Night Stalker: The Hunt for a Serial Killer (2021) conta a história da caça a um dos serial killers mais notórios da história americana, focando na investigação policial. American Nightmare (2024) narra o caso de um casal acusado de encenar um sequestro após a mulher reaparecer, explorando a incredulidade das autoridades e o trauma das vítimas. Conversations with a Killer: The Ted Bundy Tapes (2019) oferece um olhar sobre a mente do serial killer Ted Bundy através de entrevistas com ele, focando na psicologia de criminosos. Wild Wild Country (2018) documenta o conflito entre uma comunidade local e um guru controverso que constrói uma cidade utópica, abordando temas de culto e poder. This Is a Robbery: The World’s Greatest Art Heist (2021) investiga o roubo de obras de arte de um museu em Boston, explorando o mistério em torno do crime não resolvido.  

Outros exemplos notáveis incluem Jeffrey Epstein: Filthy Rich, que examina a vida e os crimes de Jeffrey Epstein ; Allen v. Farrow, que se aprofunda nas alegações de agressão sexual contra Woody Allen ; Ted Bundy: Falling for a Killer, que explora os crimes de Ted Bundy sob uma perspectiva feminina ; Surviving R. Kelly, que detalha alegações de abuso sexual contra o cantor R. Kelly ; How to Fix a Drug Scandal, que investiga um escândalo de adulteração de drogas ; The Staircase, que documenta o caso de Michael Peterson, acusado de assassinar sua esposa ; e Trial by Media, que examina como a cobertura midiática pode influenciar os veredictos de julgamentos.  

No cenário brasileiro, também encontramos produções que ganharam destaque, como Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez (2022, HBO Max) e Isabela: O Caso Nardoni (2023, Netflix). A franquia A Menina que Matou os Pais (2021, Prime Video) e suas sequências, Maníaco do Parque (2024, Prime Video) e A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samudio (2024, Netflix) também demonstram o interesse crescente por casos criminais nacionais. Diversas listas online, como as do IMDB e Rotten Tomatoes, também oferecem uma vasta gama de exemplos populares do gênero.  

A variedade de casos abordados, desde crimes individuais até questões sistêmicas, demonstra a versatilidade do gênero e sua capacidade de explorar diversos aspectos do crime e da justiça. A popularidade de documentários focados em casos de grande repercussão sugere um fascínio público pelas vidas e quedas de indivíduos conhecidos, bem como por crimes que capturam a atenção nacional.

Por Que Nos Cativam Tanto? As Razões da Popularidade

A crescente popularidade dos documentários de true crime pode ser atribuída a uma combinação de fatores que apelam a diferentes aspectos da psique humana. Um dos principais atrativos é o elemento de mistério. Assim como romances e filmes de mistério sempre foram populares, o true crime oferece ao público a oportunidade de se sentir envolvido em um enigma real que se desenrola diante de seus olhos. Muitas pessoas apreciam a sensação de acompanhar a resolução de um caso e sentir que participaram do processo, tudo isso no conforto de suas casas.  

Estudos sobre o público de true crime descobriram que as mulheres brancas constituem a maior parte dos espectadores. Uma das hipóteses para esse fenômeno é que, devido à ansiedade que as mulheres sentem em relação a potenciais ameaças, elas recorrem ao true crime como uma forma de se sentirem mais preparadas caso algo violento lhes aconteça. Essa busca por conhecimento e preparação diante de possíveis perigos é uma das camadas que explicam o fascínio pelo gênero.  

Além disso, o true crime permite a discussão de questões importantes relacionadas à segurança pública. Ao apresentar casos criminais reais, os documentários podem levar o público a refletir sobre as falhas do sistema, as causas da violência e as medidas necessárias para a prevenção de crimes. Criadores de conteúdo são frequentemente movidos pela busca por respostas para crimes não solucionados, pelo desejo de dar voz às vítimas e suas histórias, ou pela exploração da complexidade da mente humana por trás de atos criminosos. A possibilidade de o público tentar resolver casos que permaneceram sem solução também contribui para o interesse no gênero. Os documentários oferecem uma plataforma para dar voz às vítimas de crimes, humanizando-as e evitando que sejam esquecidas. Em comparação com filmes, as séries e documentários de true crime possuem um tempo de exibição maior, o que permite abordar questões mais complexas e aprofundadas, contribuindo para uma maior visibilidade tanto dos réus quanto das vítimas. Os recursos audiovisuais utilizados permitem que o espectador se “aproximar” da narrativa, relacionando a produção com a memória, criando uma conexão emocional impactante. As diversas construções narrativas, que podem focar nas vítimas e nos envolvidos ou no assassino e suas motivações, também contribuem para a popularidade do gênero. No Brasil, artigos e outras fontes também exploram as razões por trás do fascínio pelo true crime.  

O apelo do true crime é multifacetado, abrangendo desde o engajamento intelectual com enigmas até conexões emocionais com as vítimas e uma sensação de aprendizado indireto sobre perigos potenciais. O foco tanto nas vítimas quanto nos perpetradores destaca uma dualidade no interesse do público – um desejo de entender o crime e seu impacto, bem como as motivações por trás do comportamento criminoso.

A Linha Tênue: Ética e Críticas no Mundo do True Crime

A crescente popularidade dos documentários de true crime também levanta importantes considerações éticas e críticas, principalmente no que diz respeito ao impacto sobre as vítimas e suas famílias. Uma das principais críticas é que alguns títulos acabam por dar mais destaque e fama aos criminosos do que às vítimas, o que pode ser visto como uma forma de exploração. A tendência de usar atores famosos para reencenar histórias de crimes reais também é considerada problemática, pois pode levar a uma glamourização dos assassinos, despertando fascínio e até mesmo obsessão. Essa glamourização é vista como desrespeitosa e prejudicial para as vítimas e seus familiares.  

Outra crítica importante reside na autenticidade dos fatos apresentados nos documentários. Alegações de omissão de detalhes cruciais levantam questões sobre se o objetivo é realmente informar ou apenas aumentar a audiência, mesmo que isso signifique distorcer a verdade. O lançamento de documentários sobre casos pendentes, focando na perspectiva do suspeito, levanta sérias preocupações sobre a possibilidade de influenciar a opinião pública e os processos legais. Discussões sobre o uso de inteligência artificial para alterar imagens também agravam as preocupações sobre a manipulação de casos reais. Alguns argumentam que certas plataformas priorizam o lucro e a fama em detrimento da informação e da educação, comercializando casos de true crime de forma exploratória. Em contrapartida, há sugestões de que o gênero poderia evoluir para respeitar e honrar as vítimas, apresentando a verdade de forma clara e focando em lembrar os nomes das vítimas, e não dos seus assassinos.  

Diretores têm a obrigação de reconhecer que as vítimas retratadas são pessoas reais com vidas reais. Há um debate sobre se o foco principal deve ser nos perpetradores ou nas vítimas desses crimes, com alguns argumentando que deve haver um foco claro nas histórias das vítimas e em garantir que a dramatização não as retrate de forma negativa. A necessidade de os criadores fazerem uma pesquisa completa sobre os fatos e sobre o impacto nos familiares das vítimas é crucial para apresentar uma narrativa completa e precisa. No entanto, alguns argumentam que o principal objetivo dos cineastas é entreter o público, e não necessariamente aderir a padrões éticos rigorosos. A responsabilidade ética também se estende aos espectadores, que devem reconhecer que as representações na mídia podem ser dramatizadas e ficcionalizadas. A mídia tem uma influência significativa na forma como o público percebe os casos e as pessoas envolvidas, destacando a necessidade de cautela ao criar e consumir conteúdo de true crime. A questão da justiça nos casos de true crime é complexa e muitas vezes divisiva, e os documentários podem contribuir para essas divisões dependendo de como apresentam os casos e os resultados. No Brasil, também há discussões sobre a ética envolvida na produção de true crime.  

As considerações éticas são primordiais, pois o gênero lida com o sofrimento humano real. A tensão entre entretenimento e narrativa responsável requer um exame cuidadoso. As críticas em relação à glamourização e ao foco nos perpetradores levantam sérias questões éticas sobre o potencial do gênero de prejudicar ou desrespeitar vítimas e suas famílias. O papel da mídia na formação da opinião pública sobre casos em andamento destaca o potencial de documentários de true crime interferirem no processo judicial.

Além do Assassinato: Explorando os Subgêneros do True Crime

O gênero de documentários de true crime abrange diversas abordagens e subgêneros. Podemos identificar documentários investigativos, que se aprofundam na análise de evidências e na busca por respostas. Há também aqueles que utilizam reconstituições de cenas do crime para ilustrar os eventos. As entrevistas com pessoas envolvidas, como investigadores, familiares das vítimas, testemunhas e até mesmo os próprios criminosos, são outra abordagem comum.  

Além dessas abordagens, podemos observar subcoleções temáticas, como os “crimes para maratonar” (documentários particularmente envolventes), os “crimes históricos” (que exploram casos do passado), os “crimes internacionais” (focados em ocorrências fora do país de origem do público), as “reportagens investigativas” (com uma abordagem jornalística aprofundada) e os casos de “pessoas desaparecidas”. Alguns documentários se concentram em casos de grande repercussão, enquanto outros adotam o formato de série, explorando um único caso em profundidade ou apresentando diferentes casos a cada episódio. As “reportagens narrativas aprofundadas” utilizam uma narrativa detalhada e imersiva para contar a história de um crime, muitas vezes com foco nas vítimas e no impacto do ocorrido. Também existem conteúdos de true crime de curta duração e documentários produzidos por canais ou criadores especializados. A categorização de podcasts de true crime também oferece insights sobre os subgêneros de documentários. É importante notar que nem todos os documentários de true crime se concentram em assassinatos, havendo também aqueles que exploram outros tipos de crimes, como os relacionados a seitas ou fraudes financeiras. No Brasil, também se discute a variedade de tipos de true crime.  

A amplitude do gênero permite diversas abordagens narrativas e explorações temáticas, atendendo a diferentes interesses do público dentro da esfera do true crime. A variedade de subgêneros e abordagens indica uma maturação do gênero, indo além de simples relatos de crimes para narrativas mais nuances e focadas.

Impacto na Sociedade: Mais do Que Entretenimento?

Os documentários de true crime podem ter impactos significativos na sociedade, tanto positivos quanto negativos. Um dos potenciais impactos positivos é a possibilidade de gerar mudanças nas leis, auxiliando na prevenção de crimes semelhantes no futuro. No contexto brasileiro, observa-se um impacto potencial na agilidade do sistema judiciário em casos de grande notoriedade, que tendem a ser julgados mais rapidamente devido à atenção da mídia.  

No entanto, o gênero também pode ter impactos negativos, como evidenciado no caso do sequestro e assassinato da adolescente Eloá Cristina, onde a cobertura midiática invasiva e irresponsável contribuiu para o trágico desfecho. A cobertura massiva da mídia é um fator comum que influencia o andamento dos casos, tornando fundamental que os espectadores utilizem o pensamento crítico ao consumir esse tipo de material. Os documentários de true crime têm o potencial de aumentar a conscientização sobre crimes e desempenham um papel na discussão sobre o sistema de justiça. No Brasil, há artigos que exploram o impacto social do true crime.  

Embora ofereçam entretenimento, os documentários de true crime também podem servir como catalisadores para discussões sociais e legais, potencialmente levando a mudanças positivas, mas também carregando riscos de influência negativa. O caso de Eloá Cristina serve como um alerta sobre as potenciais consequências negativas da cobertura midiática sensacionalista e intrusiva em eventos criminais em tempo real.

Os Bastidores da Verdade: Produção e Elementos Narrativos

A produção de documentários de true crime frequentemente emprega uma combinação de elementos para construir a narrativa e envolver o público. O uso de imagens de arquivo, como fotos, vídeos e gravações de áudio da época dos eventos, é comum para fornecer contexto e autenticidade à história. Entrevistas com pessoas diretamente envolvidas no caso, incluindo investigadores, familiares das vítimas, testemunhas e, em alguns casos, os próprios criminosos, oferecem diferentes perspectivas e aprofundam a compreensão dos eventos. A trilha sonora desempenha um papel crucial na criação da atmosfera e na intensificação das emoções ao longo da narrativa.  

Os elementos narrativos utilizados em documentários de true crime muitas vezes borram as fronteiras entre o documentário e a ficção. O uso do suspense, particularmente em documentários com temática policial, é uma técnica comum, com a narrativa sendo estruturada para criar um clímax em um ponto específico da história, mantendo o público engajado para o próximo episódio. Elementos sonoros, como música de suspense, são utilizados para aumentar o drama. Frequentemente, os documentários se centram em um protagonista, mesmo ao apresentar múltiplas perspectivas. A repetição de informações pode ser utilizada para enfatizar temas ou detalhes importantes. A edição cuidadosa é essencial para conectar as cenas e tecer a narrativa de forma original, mantendo uma linha de raciocínio clara. O estilo de edição pode se assemelhar ao de uma série de ficção, utilizando técnicas como a interposição de depoimentos, opiniões de especialistas e imagens de arquivo para criar um ritmo intenso de informações e acelerar o desenrolar dos eventos. Uma abordagem narrativa não linear também é comum, onde a linha do tempo pode ser quebrada para destacar um fato ou experiência considerada importante para o espectador. Os depoimentos são inseridos estrategicamente para reforçar contradições ou enfatizar uma linha de raciocínio específica, mantendo uma consistência de fatos que levam ao clímax. O mistério e as reviravoltas na trama são essenciais para manter o interesse do público. Em formatos serializados, cada episódio frequentemente termina com uma reviravolta, revelando um novo fato que cria surpresa e curiosidade, incentivando a maratona. Os documentários de true crime frequentemente apresentam diferentes pontos de vista, aproveitando as ambiguidades em casos reais. O uso de imagens com uma estética jornalística e reportagens reais também contribui para o efeito de realidade. A própria natureza do conteúdo de true crime, que busca referenciar a realidade ao contar histórias de crimes reais, estabelece automaticamente um nível de realismo. No Brasil, também se discute a produção de documentários de true crime.  

A produção de documentários de true crime combina estrategicamente informações factuais com técnicas de narrativa envolventes emprestadas da ficção para maximizar o engajamento do público. A utilização de suspense, reviravoltas na trama e estilos de edição específicos demonstra um esforço consciente para criar uma narrativa cativante, mesmo dentro das restrições da reportagem factual. A dependência de imagens de arquivo e entrevistas proporciona uma sensação de autenticidade e imediatismo, ancorando a narrativa em eventos reais e relatos pessoais.

O gênero true crime documental se estabeleceu firmemente no panorama da cultura popular brasileira, oferecendo um olhar intrigante e, por vezes, perturbador sobre a realidade do crime. Sua capacidade de mesclar a objetividade da investigação jornalística com as técnicas narrativas do entretenimento explica grande parte de seu sucesso. No entanto, essa popularidade não está isenta de controvérsias éticas, que exigem uma reflexão contínua sobre a responsabilidade dos criadores e o impacto dessas narrativas sobre as vítimas e a sociedade em geral.

A evolução do gênero, desde suas origens literárias até o fenômeno multimídia atual, reflete as mudanças nos hábitos de consumo e o fascínio duradouro do público por histórias que exploram os limites do comportamento humano. Ao mesmo tempo em que oferece entretenimento, o true crime documental tem o potencial de gerar discussões importantes sobre o sistema de justiça, a segurança pública e as complexidades da psique humana. O futuro do gênero provavelmente passará por uma busca constante por narrativas inovadoras e responsáveis, que respeitem a memória das vítimas e contribuam para uma compreensão mais profunda da realidade do crime em nossa sociedade.

Tabela: Documentários de True Crime Notáveis e Suas Características

TítuloAno de LançamentoTema(s) Principal(is)Abordagem PrincipalPopularidade/Impacto
Don’t F**k with Cats: Hunting an Internet Killer2019Investigação online, perseguição de criminososInvestigação online, entrevistasMinissérie popular que destacou o poder da investigação online.
O.J.: Made in America2016Raça, celebridade, sistema judicial americanoCronológica, entrevistas, análise socialDocumentário premiado que oferece uma análise profunda do caso O.J. Simpson e seu contexto social.
Making a Murderer2015–2018Injustiça criminal, corrupção policialObservacional, acompanhamento judicialSérie documental de grande impacto que gerou debates sobre o sistema judicial americano.
The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst2015–2024Mistério, riqueza, possibilidade de escapar da justiçaEntrevistas com o suspeito, investigaçãoConhecido por seu final chocante e pela participação do próprio Robert Durst.
Lover Stalker Killer2024Obsessão, perigos dos encontros onlineEntrevistas, reconstituições dramáticasDocumentário recente com reviravoltas que explora os perigos dos relacionamentos online.
Night Stalker: The Hunt for a Serial Killer2021Investigação policial, impacto de serial killerFoco na investigação e nos detetivesMinissérie que detalha a caça a um notório serial killer.
American Nightmare2024Incredulidade das autoridades, trauma das vítimasEntrevistas, exploração de contradiçõesDocumentário que questiona a narrativa oficial de um caso de sequestro.
Conversations with a Killer: The Ted Bundy Tapes2019Psicologia de um serial killerGravações de áudio de entrevistasOferece uma visão da mente de Ted Bundy através de suas próprias palavras.
Wild Wild Country2018Cultos, poder, conflito comunitárioImagens de arquivo, entrevistasDocumentário aclamado sobre a ascensão e queda de um movimento controverso.
This Is a Robbery: The World’s Greatest Art Heist2021Mistério, arte, roubo de arteInvestigação, teorias sobre o crimeExplora o maior roubo de arte da história, que permanece sem solução.
Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez2022Assassinato de Daniella Perez, sistema judicial brasileiroEntrevistas com familiares e envolvidosDocumentário brasileiro de grande repercussão sobre um crime notório.
Isabela: O Caso Nardoni2023Caso Nardoni, sistema judicial brasileiroEntrevistas, análise do casoDocumentário brasileiro que revisita um caso criminal que chocou o país.
A Menina que Matou os Pais / O Menino que Matou Meus Pais2021Caso Richthofen, diferentes perspectivas do crimeDramatização com base nos depoimentosFilmes brasileiros que apresentam diferentes versões de um crime famoso.
Maníaco do Parque2024Atuação do Maníaco do Parque, serial killer brasileiroDramatizaçãoFilme brasileiro que ficcionaliza a história de um notório serial killer.
A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samudio2024Desaparecimento e morte de Eliza Samudio, caso BrunoEntrevistas, investigação jornalísticaDocumentário brasileiro que explora um caso de grande repercussão nacional.

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