Christopher Taylor abrirá uma galeria em seu apartamento em Paris, com John Isaacs como mostra inaugural

Ego in Arcadia, 2025, silk screen print on canvas, glazed ceramic, 24 carat gold leaf, steel, diptych, each panel 100 x 80 x 10 cm
Lisbeth Thalberg
Lisbeth Thalberg
Jornalista e artista (fotógrafo). Editor da seção de arte da MCM.

Christopher Taylor—curador, galerista e músico—abrirá uma galeria de arte contemporânea em seu próprio apartamento, no 124 do Boulevard Malesherbes, em Paris. A iniciativa retoma o formato doméstico de exposição que marcou seus primeiros anos e estende uma linha curatorial desenvolvida anteriormente em Londres e Nova York. A programação apresentará artistas emergentes e consagrados em um ambiente íntimo, no qual a arquitetura barroca do apartamento é tratada como componente ativo da exibição, e não como simples pano de fundo neutro.

A decisão de Taylor reúne diversas vertentes de sua prática. Em Londres, a Museum 52 nasceu como galeria instalada em um espaço residencial e ficou conhecida por apresentar trabalhos iniciais de artistas que mais tarde alcançariam maior visibilidade. Em Nova York, Taylor atuou primeiro sob o selo Museum 52 e, depois, como American Contemporary, estruturando um programa com nomes que viriam a obter reconhecimento institucional e interesse sustentado do mercado. Ao longo dessas fases, ele trabalhou com artistas como Shara Hughes, Conrad Shawcross, Esther Stocker, Kon Trubkovich, John Isaacs e Nick Waplington. O projeto parisiense retorna à escala e à informalidade dos primórdios, ao mesmo tempo em que se apoia na disciplina organizacional e na rede profissional consolidadas em seus anos nos Estados Unidos.

O novo espaço será inaugurado com John Isaacs: Ego in Arcadia. A mostra reflete mais de duas décadas de colaboração entre Taylor e Isaacs, artista associado à geração dos Young British Artists cuja prática abrange escultura, pintura e instalação. Isaacs investiga com frequência como imagens do corpo humano absorvem e refratam pressões sociais—crença, consumo, mortalidade—por meio de uma linguagem visual que dialoga com a forma clássica e com a cultura material contemporânea. O título recupera o memento moriEt in Arcadia ego”, deslocando o foco para o “eu” em um presente saturado de imagens.

Segundo a galeria, Ego in Arcadia justapõe motivos da Antiguidade—figuras míticas, fragmentos anatômicos, referências arquitetônicas—a objetos cotidianos e componentes industriais. A instalação é concebida como uma sequência de tableaux que tratam o apartamento simultaneamente como lugar e como assunto. Molduras, pátinas e fluxos de circulação são incorporados à experiência de visita, em vez de ocultados. Essa abordagem se alinha à formação de Isaacs em cenografia para cinema e teatro, perceptível na atenção à composição, ao ritmo de leitura e a uma ideia de “decadência calibrada”. O resultado é um contexto em que ideal e provisório, sagrado e comum, permanecem em tensão deliberada.

Taylor concebe o projeto tanto como plataforma de conversa quanto como dispositivo expositivo. A escala doméstica favorece um olhar mais lento, encurta a distância entre obra e público e convida a trocas que podem ser difíceis de promover em contextos institucionais de maior porte. Embora a programação não seja limitada por geografia ou meio, ela se orienta para artistas que enfrentam debates atuais da arte contemporânea com rigor formal e clareza conceitual. O formato residencial também introduz uma restrição curatorial—as obras precisam negociar um espaço habitado—que a galeria entende como impulso produtivo, e não como limitação.

A escolha de Isaacs para a abertura sublinha o interesse da galeria por colaborações de longo prazo. Taylor já apresentou o trabalho do artista e situa a nova mostra dentro de um diálogo contínuo sobre fragilidade, representação e os “pós-vidas” das imagens. No apartamento, esse diálogo se torna espacial: o ambiente doméstico encena como a arte pode habitar—e não apenas decorar—um espaço vivido. A atenção aos limiares—entre cômodos, períodos e materiais—espelha as questões temáticas relativas a herança e fragmentação.

A programação se estenderá para além das exposições, com encontros de pequeno formato que conectam artistas, escritores e públicos. A recepção inaugural está prevista para o pátio do edifício e, em futuros momentos, poderão ser incluídas música ao vivo e conversas. O acesso ocorrerá com horário marcado e também em faixas de visitação definidas, em linha com a natureza híbrida de uma residência preparada para receber visitantes. A comunicação da galeria enfatiza a acessibilidade dentro dos limites do local e a preferência por visitas focadas que privilegiem o diálogo em vez do volume de público.

A iniciativa de Taylor soma-se a um ecossistema parisiense em expansão, no qual diversos espaços experimentam escala, arquitetura e modos de relação com o público. Ao colocar o doméstico em primeiro plano, o projeto destaca a visão como prática social e a capacidade de uma sala—suas proporções, superfícies e acústica—de orientar a interpretação. A exposição inaugural introduz essa metodologia por meio de uma colaboração testada e de um conjunto de obras que examina a fronteira entre imagem e objeto, ideal e ruína. Os elementos históricos do apartamento não funcionam como mero cenário, mas como coautores da apresentação, convidando o visitante a considerar até que ponto o contexto informa o sentido.

A galeria se posiciona como um lugar onde intenção curatorial e espaço vivido se cruzam, propondo um modelo que não é estritamente institucional nem exclusivamente comercial. Assim, busca reconfigurar a circulação das obras—e as conversas em torno delas—na escala doméstica, sem abrir mão da ambição crítica. Com Ego in Arcadia, o capítulo de abertura estabelece os termos: uma negociação entre permanência e impermanência, referência clássica e imediatismo contemporâneo, encontro público e ambiente privado.

ohn Isaacs, Ego in Arcadia, 2025, silk screen print on canvas, glazed ceramic,
24 carat gold leaf, steel, diptych, each panel 100 x 80 x 10 cm
ohn Isaacs, Ego in Arcadia, 2025, silk screen print on canvas, glazed ceramic, 24 carat gold leaf, steel, diptych, each panel 100 x 80 x 10 cm
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