A David Zwirner apresenta uma seleção concisa de pinturas e obras sobre papel de Joan Mitchell que mapeia um trecho curto, porém determinante, de sua trajetória. Reunido a partir de empréstimos públicos e privados, além do acervo da Joan Mitchell Foundation, o conjunto se concentra no quinquênio em que Mitchell afrouxou os andaimes estruturais das primeiras composições e avançou para arranjos mais exploratórios. A mostra tem curadoria de Sarah Roberts, Senior Director of Curatorial Affairs na Joan Mitchell Foundation.
Posicionadas como uma dobradiça entre os formatos ancorados na paisagem e a arquitetura pictórica posterior da artista, as obras desse período frequentemente se organizam em torno de um núcleo denso e turbilhonado — predominantemente em camadas de azuis e verdes —, recortado por véus mais tênues de cor. A tensão entre compressão e abertura opera como princípio ordenador, enquanto profundidade cromática e turbulência gestual compartilham o mesmo campo.
A vida de ateliê em Paris coincidiu com longas temporadas na Côte d’Azur ao lado do pintor Jean Paul Riopelle. O tempo passado na água, vivendo por períodos em um veleiro e observando um horizonte em constante mudança, alimentou as telas de modo indireto. Em vez de representar vistas específicas, Mitchell reestruturou sensações de brilho, distância e fratura litorânea em um vocabulário de constelações centralizadas e pinceladas interrompidas. O horizonte recua como andaime; a atmosfera torna-se estrutura.
A crítica da época registrou a inflexão, descrevendo essas telas como meditações sobre fragmentos de paisagem e ar — caracterização que se alinha ao foco da exposição no processo, não no motivo. Massas de cor, acelerações do gesto e os intervalos entre elas carregam a tensão emocional, deslocando qualquer lugar ou narrativa única para segundo plano.
As palavras da própria Mitchell oferecem uma chave de leitura sintética: ela buscava algo que não podia ser verbalizado — “definir um sentimento”. A mostra toma essa ambição como eixo. As camadas de tinta se acumulam, são parcialmente apagadas e voltam a se afirmar; vermelhos e violetas embutidos afloram através dos campos dominados por azuis e verdes, testando a estabilidade da imagem e fixando a memória como um baixo contínuo, mais do que como tema.
A montagem evidencia o entrelaçamento entre mudanças estruturais e técnicas. Passagens largas e elásticas interrompem zonas esfregadas; aglomerados percussivos encontram longos varridos de pincel. As composições gravitam para o centro sem ceder um ponto focal único, mantendo um equilíbrio operativo entre inquietação e ordem. O “clima interno” das pinturas — rajadas, suspensões, clarezas súbitas — funciona como método de trabalho, não como metáfora.
Ao restringir o recorte a 1960–1965, a apresentação isola o momento em que Mitchell se afasta da paisagem como assunto, preservando, contudo, suas atmosferas e temporalidades como forças estruturantes. Resulta daí um argumento compacto, legível na superfície das obras, sobre como sensação, memória e método convergiram para reorientar seu pensamento pictórico.
Local e datas: David Zwirner, 537 West 20th Street, Nova York — “To define a feeling: Joan Mitchell, 1960–1965”, curadoria de Sarah Roberts. Datas da exposição: de 6 de novembro a 13 de dezembro de 2025.