A Netflix estreia hoje “Desastre Total: Festival Astroworld”, um novo e contundente documentário que se aprofunda na catastrófica tragédia que transformou um festival de música em um cenário de horror, marcando para sempre a vida dos presentes e a indústria de shows. Integrando a aclamada série documental que já analisou eventos como “Desastre Total: Woodstock ’99”, a produção vai além dos erros pontuais para investigar o incidente do Astroworld como um sintoma de falhas sistêmicas na organização de grandes eventos, sugerindo que as lições de uma catástrofe podem ser cruciais para prevenir outras.
Dirigido por Yemi Bamiro, o documentário busca esmiuçar os acontecimentos daquela noite fatídica, não apenas mostrando o que aconteceu, mas como e por que uma celebração da música se converteu em um pesadelo. A produção oferece uma radiografia completa do caos e de seu devastador impacto humano.
O filme promete reacender o debate sobre a segurança em shows, a responsabilidade de artistas e produtoras e a eficácia da justiça. Essas discussões são especialmente relevantes diante do histórico de processos judiciais pós-desastre, que incluíram inúmeras ações civis e a controversa decisão de um grande júri de não indiciar criminalmente figuras centrais como o rapper Travis Scott e os organizadores do festival.

Na pele dos sobreviventes: uma jornada visceral ao coração do caos
O grande diferencial de “Desastre Total: Festival Astroworld” é sua narrativa focada nos relatos em primeira mão de quem viveu o terror: os jovens que escaparam por um fio, os paramédicos que se viram sobrecarregados e os funcionários do evento, presos em meio a uma crise avassaladora. Com entrevistas exclusivas, o filme tece essas histórias pessoais para pintar um retrato vívido e em escala humana da crescente espiral de pânico daquela noite.
O extenso relatório de 1.266 páginas do Departamento de Polícia de Houston (HPD), um dos pilares da investigação, já havia revelado um abismo entre o que Travis Scott alegou ter visto do palco e as experiências angustiantes relatadas por milhares de fãs e trabalhadores.
A crônica de um desastre anunciado
O documentário reconstrói meticulosamente a cadeia de eventos que culminou em dez mortes e centenas de feridos. Horas antes do show principal, os portões de segurança já haviam sido derrubados por uma multidão, com relatos de pessoas usando até alicates para entrar. O relatório policial aponta que, às 15h54, a equipe médica já estava sobrecarregada, tendo atendido 54 pessoas, enquanto as condições na plateia eram descritas como perigosas. Corpos inconscientes eram retirados das rodas de mosh antes mesmo de Scott subir ao palco. O filme evidencia como a densidade e a compressão do público se tornaram insustentáveis à medida que a expectativa pelo rapper crescia, sugerindo que os sinais de perigo iminente foram ignorados ou normalizados pelos responsáveis.
Um ponto central da análise é o período crítico durante a apresentação de Scott, quando a situação saiu de controle. O documentário examina a declaração de “evento com vítimas em massa” pelas autoridades às 21h38 e a polêmica decisão de continuar o show por mais de 30 minutos após o alerta. A investigação policial indicou um atraso de quase uma hora entre o momento em que a tragédia se tornou evidente e a interrupção final da música. O filme expõe essa terrível desconexão entre o sofrimento na plateia e a performance no palco, e aprofunda a mecânica da “compressão de multidão”, educando sobre como uma atmosfera festiva pode se transformar em uma armadilha mortal — algo vital para a prevenção de futuros desastres.
Segurança e responsabilidade em xeque
“Desastre Total: Festival Astroworld” examina sem rodeios as falhas sistêmicas que permitiram a tragédia. A produção coloca sob os holofotes a falta de preparo da equipe de segurança, descrita no relatório policial como “mal treinada e insuficiente”. Um tenente da polícia chegou a questionar os planos de segurança, concluindo desolado: “ninguém sabia o que estava fazendo, e o caos ia continuar”.
Ações judiciais alegaram que a própria estrutura do evento, como a disposição de equipamentos de câmera para a transmissão ao vivo, teria obstruído as saídas de emergência. Além disso, a polícia de Houston teria alertado a promotora Live Nation que o local era grande demais para o plano de segurança existente, recomendando o uso de cercas reforçadas que nunca foram implementadas. O documentário conta com análises de especialistas para dissecar os erros de planejamento e controle de público.
Disponibilidade
Dirigido por Yemi Bamiro, “Desastre Total: Festival Astroworld” mergulha nos acontecimentos de 5 de novembro de 2021, em Houston, Texas. O documentário estreou globalmente na Netflix em 10 de junho de 2025 e já está disponível na plataforma.