A Netflix mergulha mais uma vez no aclamado gênero do suspense policial dinamarquês com “A Agente”, uma nova série que promete uma imersão nas profundezas de uma perigosa operação secreta. Com o título original de “Legenden”, a produção se apresenta como um drama de ação e crime que coloca sua protagonista no centro de um dilema moral de alto risco. A narrativa, enquadrada no gênero Nordic Noir, segue Tea, uma jovem e aspirante cadete de polícia interpretada por Clara Dessau, que é selecionada para uma missão de infiltração em um “ambiente criminoso brutal” que conseguiu iludir os serviços de inteligência por um tempo considerável.
O envio de uma agente em formação, em vez de uma veterana, para um ambiente tão hostil e consolidado sugere que a operação é uma medida de alto risco, possivelmente um último recurso da agência de inteligência. Esse contexto eleva as apostas desde o início, centrando a tensão não apenas no sucesso da missão, mas no imenso custo psicológico que ela poderia ter para uma agente inexperiente. A premissa fundamental da série levanta uma questão central que ecoa ao longo da trama: o que acontece quando a linha que separa o dever da conexão pessoal se torna turva? Onde reside a verdadeira lealdade quando a própria identidade se transforma em uma mentira cuidadosamente construída?
A Trama: Infiltração, Engano e um Vínculo Perigoso
A missão de Tea é específica e requer uma transformação completa. Ela deve adotar uma “identidade completamente nova” como joalheira para poder acessar os círculos íntimos da rede criminosa. Seu alvo principal não é o líder da organização, mas uma figura-chave para obter informações: sua esposa, Ashley, interpretada pela atriz Maria Cordsen. A diretriz é clara: Tea, sob o pseudônimo de “Sara”, deve “fazer amizade” com Ashley para “coletar informações cruciais” que permitam desmantelar o império do crime por dentro.
O desenho desta missão, focado na exploração de um relacionamento pessoal em vez de um confronto direto, parece deliberadamente construído para maximizar o conflito psicológico e emocional. A trama se complica quando Tea, em seu papel de Sara, começa a ter sucesso. À medida que se aproxima de Ashley, ela testemunha a “sombria realidade de sua vida” sob o controle de seu marido, o cérebro do crime Miran (Afshin Firouzi). Tea descobre que Ashley vive presa na “teia criminosa e controladora” de Miran, uma revelação que atua como catalisador de sua crise interna. Essa exposição ao sofrimento de seu alvo força a protagonista, e com ela o espectador, a ter empatia por alguém do “outro lado”, desafiando a simples dicotomia entre o bem e o mal. Consequentemente, “surgem dúvidas sobre onde realmente reside sua lealdade”, transformando uma operação de inteligência em um profundo dilema moral sobre o dever e a humanidade.
Os Personagens: Um Mosaico de Lealdades e Segredos
O núcleo narrativo de “A Agente” repousa sobre quatro personagens cujas interações definem a tensão da série.
Tea Lind (Clara Dessau): Descrita como uma “aspirante a cadete de polícia” e “nova agente do serviço de inteligência”, Tea é o eixo da história. Sua jornada explora a complexidade da identidade sob pressão extrema, confrontando seu idealismo inicial com a brutalidade do mundo em que se infiltra.
Ashley (Maria Cordsen): É a esposa do chefe do crime e o alvo principal da missão de Tea. Sua vida, marcada pelo controle e por uma “realidade sombria”, a torna uma figura trágica. Ashley não é apenas um meio para um fim; ela se transforma na fonte do conflito moral de Tea e em uma peça-chave para entender o custo humano do crime organizado.
Miran (Afshin Firouzi): O antagonista da série, caracterizado como o “cérebro do crime” e o “chefe do crime”. Sua natureza “controladora” sobre Ashley é um elemento central da trama, representando o poder e a brutalidade que Tea deve enfrentar e desmantelar.
Folke (Nicolas Bro): É o supervisor de Tea no serviço de inteligência. Seu papel é o de representar a pressão institucional, empurrando Tea para cumprir seus objetivos sem se importar com o custo emocional, o que poderia gerar um conflito secundário entre a agente e seu superior.
O elenco principal é completado pelas atuações de Soheil Bavi, Arian Kashef e Lara Ly Melic Skovgaard.
A Visão Criativa: Um Suspense Focado nos Personagens
A filosofia criativa por trás de “A Agente” a posiciona firmemente como um drama de personagens em vez de um suspense de ação convencional. Essa intenção é articulada de maneira clara e consistente nas declarações do diretor conceitual, Samanou Acheche Sahlstrøm, cuja visão tem sido o pilar da apresentação pública da série. A repetição de sua declaração em múltiplos comunicados oficiais sugere uma estratégia deliberada para atrair um público que busca profundidade psicológica e diferenciar a série em um mercado saturado.
Sahlstrøm afirma que se sentiu atraído pela história porque ela “explora as complexidades da identidade e da lealdade sob pressão extrema”. Seu foco está em “até onde uma pessoa está disposta a ir para fazer o que acredita ser certo, mesmo quando as linhas entre o bem e o mal se confundem”. A declaração culmina com uma afirmação que funciona como uma tese para a série: “Sempre quis trabalhar em uma série policial que colocasse seus personagens, seu desenvolvimento e suas relações no centro da história. É precisamente isso que ‘A Agente’ faz”.
A filmografia anterior de Sahlstrøm reforça essa visão. Seus longas-metragens, como “In Your Arms”, que aborda o tema do suicídio assistido, e “Until We Fall”, um estudo sobre o luto de um casal após o desaparecimento de seu filho, demonstram uma inclinação para explorar temas emocionalmente complexos com uma sensibilidade honesta e, muitas vezes, brutal. Seu método de trabalho se concentra em dar liberdade aos atores para explorar as nuances das cenas, priorizando a autenticidade humana sobre a provocação.
A essa visão se soma o diretor de episódios Kasper Barfoed, cuja experiência no gênero de suspense (“The Candidate”, “The Chestnut Man”) contribui com um pulso narrativo tenso e eficaz. Barfoed é conhecido por um estilo que ele e sua equipe chamam de “expressionismo documental”, que utiliza câmeras na mão e uma abordagem visual crua para ancorar a ação em uma realidade reconhecível e refletir o estado interno do protagonista. Essa técnica busca que a câmera nunca saiba mais do que o personagem, criando uma experiência imersiva e claustrofóbica para o espectador.
Essa visão é reforçada pela participação da produtora Profile Pictures, cuja filmografia inclui títulos aclamados internacionalmente como “Holy Spider” e “Não Fale o Mal”. Esses filmes são conhecidos por seu tom sombrio, sua intensidade psicológica e seu foco em temas desafiadores e perturbadores. A conexão com esta produtora, que se define por criar “obras visionárias de alto impacto” que “abalam as fundações do gênero ou da narrativa”, estabelece uma expectativa de qualidade e sugere que “A Agente” não evitará a crueza e a complexidade, priorizando uma atmosfera inquietante sobre sequências de ação espetaculares. A equipe criativa se completa com os produtores Jacob Jarek e Marta Mleczek, e uma equipe de roteiristas principais que inclui Frederik Ringtved, o criador da história Adam August e o próprio Sahlstrøm, consolidando a produção como um projeto com uma forte ambição artística.
Clara Dessau: O Rosto da Infiltração
O peso dramático da série recai sobre os ombros de sua protagonista, Clara Dessau, que interpreta a agente Tea. A escolha de Dessau para um papel tão complexo parece ser uma decisão deliberada que se alinha com o foco da série no desenvolvimento de personagens. Sua filmografia anterior inclui trabalhos em produções dinamarquesas e europeias que sugerem uma base sólida no drama de personagens.
Entre seus trabalhos anteriores estão a série “Do Nada, Grávida” e filmes como “Psychosia”, “Uma Andorinha Só Não Faz Verão” e “Aquari”. Sua experiência em um cinema que muitas vezes prioriza a exploração psicológica sobre o espetáculo de grande orçamento a posiciona como a atriz ideal para encarnar a luta interna de Tea. Sua escalação reforça a promessa da produção de oferecer um retrato matizado e realista de uma mulher cuja identidade se fratura sob o peso de sua missão.
Formato e Disponibilidade Global
“A Agente” está estruturada como uma minissérie, composta por um total de seis episódios, um formato que favorece uma narrativa concisa e autoconclusiva, ideal para maratonar. Descrita como um “white-knuckle binge-watch” (uma maratona de roer as unhas), a produção dinamarquesa terá um lançamento global através da plataforma de streaming Netflix, o que permitirá que públicos de todo o mundo tenham acesso a esta história de suspense e dilemas morais.
A data de estreia está marcada para 27 de outubro de 2025, na Netflix.

