Na cacofonia do debate americano sobre a violência armada — uma paisagem frequentemente dominada por gritos, impasses políticos e a repetição entorpecente de estatísticas — um novo documentário na Netflix escolhe um caminho diferente. Ele escolhe o silêncio. Ele escolhe a quietude de um quarto deixado exatamente como estava na manhã em que uma criança saiu para a escola e nunca mais voltou.
“Quartos Vazios” (“All the Empty Rooms”), que estreia na Netflix em 1º de dezembro de 2025, é um curta-metragem documental de 33 minutos que atinge com o peso de um longa-metragem. Dirigido pelo cineasta indicado ao Oscar Joshua Seftel (“Stranger at the Gate”), o filme é o culminar de um projeto de paixão de sete anos do veterano correspondente da CBS News Steve Hartman e do fotógrafo Lou Bopp. Juntos, eles criaram uma meditação visual sobre a ausência, a memória e as ondas invisíveis de uma epidemia que ceifa mais vidas jovens na América do que qualquer outra causa.
A arquitetura do luto
A premissa de “Quartos Vazios” é devastadoramente simples. Hartman e Bopp viajaram pelos Estados Unidos para visitar famílias que perderam filhos em tiroteios escolares. Eles não foram para discutir política ou legislação. Eles foram para ver os quartos.
Os quartos dessas crianças — Alyssa Alhadeff, Charlotte Bacon, Dominic Blackwell, Jackie Cazares, Luke Hoyer, Gracie Muehlberger, Carmen Schentrup e Hallie Scruggs — são preservados como espaços sagrados. São cápsulas do tempo congeladas no instante trágico da perda. Um par de tênis deixado perto da porta, um dever de casa pela metade, pôsteres de bandas que já se separaram, roupas que nunca mais serão usadas.
“Esses quartos silenciosos revelam verdades mais poderosas do que as estatísticas jamais poderiam”, afirma a sinopse do filme. E, de fato, o poder do documentário reside em sua recusa em desviar o olhar do vazio. Ao focar nos espaços que essas crianças habitavam, o filme força o espectador a confrontar a magnitude da vida que foi vivida ali, e a enormidade da vida que foi roubada.
Uma mudança para Steve Hartman
Para o público familiarizado com Steve Hartman, “Quartos Vazios” representa uma mudança significativa. Hartman é amado por seus segmentos “On the Road” para a CBS News, histórias comoventes que encontram o bem na humanidade e muitas vezes deixam os espectadores com um sorriso. Este projeto, no entanto, foi uma busca secreta, um “projeto de paixão” empreendido sem o conhecimento de seus chefes na rede.
Afastando-se do ritmo das “boas notícias”, Hartman mergulha na mais profunda das feridas nacionais. No entanto, sua empatia característica permanece intacta. Sua presença no filme não é a de um repórter duro perseguindo um furo, mas a de uma testemunha que mantém um espaço para o luto. Sua colaboração com Lou Bopp, cuja fotografia captura a textura da perda com uma clareza assombrosa, eleva o filme de uma reportagem de notícias a uma obra de arte.
A lente de Bopp trata cada objeto com reverência. Um bicho de pelúcia, um troféu, uma mesa bagunçada — estes não são apenas adereços em uma tragédia; são evidências de existência. A cinematografia de Matt Porwoll sublinha ainda mais essa intimidade, permitindo que o público sinta o silêncio dos quartos, um silêncio que grita mais alto do que qualquer protesto.
Um impacto crítico e emocional
Desde sua estreia mundial no 52º Festival de Cinema de Telluride em agosto de 2025 e sua subsequente exibição no Festival Internacional de Cinema de Toronto, “Quartos Vazios” tem colhido elogios da crítica. Foi descrito pelo cineasta Adam McKay como “um soco no estômago e muito poderoso”, e pelo diretor Alexander Payne como “um retrato da América, da humanidade”.
Os críticos elogiaram a direção de Seftel por sua contenção. Em um gênero que pode facilmente cair no sensacionalismo ou no didatismo, Seftel confia no assunto. Ele confia que a imagem de uma cama vazia fala por si mesma. O filme já foi indicado para um Critics Choice Award e ganhou o Prêmio Subject Matter no Festival Internacional de Cinema de Hamptons.
Mas além dos prêmios, o verdadeiro impacto do filme é medido na resposta emocional de seu público. Os espectadores descrevem a experiência de assisti-lo como transformadora — um confronto difícil, mas necessário, com a realidade. Ele desafia a “normalização” dos tiroteios escolares ao recentralizar a narrativa no custo humano individual.
Os rostos dos perdidos
O documentário é dedicado às vítimas cujos quartos são apresentados, abrangendo tragédias de Sandy Hook a Parkland, Santa Clarita a Uvalde e Nashville.
- Charlotte Bacon (6), morta em Sandy Hook, cujo quarto ainda guarda a inocência do jardim de infância.
- Alyssa Alhadeff (14), Luke Hoyer (15) e Carmen Schentrup (16), vítimas do tiroteo de Parkland, cujos santuários adolescentes estão cheios de sonhos de futuros que nunca chegaram.
- Dominic Blackwell (14) e Gracie Muehlberger (15), da Saugus High School, cujos quartos capturam o caos vibrante da adolescência.
- Jackie Cazares (9), de Uvalde, e Hallie Scruggs (9), de Nashville, cujos espaços nos lembram da insuportável vulnerabilidade das vítimas mais jovens.
Cada quarto conta uma história diferente, mas todos compartilham o mesmo fim. O filme tece essas narrativas individuais em uma tapeçaria coletiva de perda que abrange toda a nação.
Um chamado para testemunhar
“Quartos Vazios” não é fácil de assistir. Não é “conteúdo” para ser consumido levianamente. É uma exigência de testemunhar. Ao lançar este filme em uma plataforma global como a Netflix, os cineastas garantem que essas crianças não sejam reduzidas a nomes em uma lista ou datas em uma linha do tempo. Eles estão convidando o mundo para suas casas, para seus santuários privados, para vê-los como seus pais ainda os veem: presentes em sua ausência.
À medida que os créditos sobem e a tela fica preta, o espectador fica com a imagem persistente desses espaços vazios. É um lembrete assombroso de que, enquanto o ciclo de notícias avança e os debates políticos continuam, para essas famílias, o quarto permanece vazio. E nesse vazio, há um apelo por um mundo onde não sejam adicionados mais quartos a esta trágica galeria.
“Quartos Vazios” estreia na Netflix em 1º de dezembro de 2025.

