Entre os muitos episódios memoráveis de Black Mirror, “USS Callister” se destacou na quarta temporada como uma sátira particularmente afiada e inquietante. O episódio criticou de forma brilhante o fandom tóxico, a natureza insidiosa do poder desenfreado e o fascínio sedutor, porém perigoso, do escapismo virtual.
Fomos apresentados a Robert Daly, um programador genial, mas socialmente desajeitado, que se vingava de seus colegas desdenhosos aprisionando seus clones digitais dentro de sua versão privada e modificada do jogo online Infinity, um mundo inspirado em sua amada série de televisão Space Fleet. Dentro desse reino digital, Daly reinava como o Capitão todo-poderoso, submetendo sua tripulação de clones a todos os seus caprichos.

Agora chega a sequência desse capítulo, o episódio escolhido para encerrar esta sétima temporada na Netflix. “USS Callister: Infinity” nos leva de volta diretamente ao cosmos digital, retomando a história imediatamente após a dramática fuga da Capitã Nanette Cole e sua tripulação do controle tirânico de Robert Daly.
Libertada do servidor privado de Daly e agora à deriva no vasto universo gerado proceduralmente do jogo público Infinity, a tripulação da USS Callister logo descobre que a liberdade traz seu próprio conjunto de desafios. Liderados pela recém-nomeada Capitã Cole (Cristin Milioti), eles se veem encalhados e lutando para sobreviver em um mundo povoado por 30 milhões de jogadores do mundo real.
Com a moeda do jogo necessária para recursos essenciais como combustível hiperespacial, a tripulação é forçada a recorrer à pirataria, emboscando jogadores desavisados e roubando seus créditos. Mas logo a realidade que todos conhecemos terá que interagir com a virtual em busca de um núcleo onde se encontra o segredo mais bem guardado do vídeo game: um clone digital de seu criador, trabalhando incessantemente para criar este mundo em expansão.
Um final surpreendente, em uma sétima temporada que, após o pesadelo inicial de cortes tenebrosos, foi perdendo aquela aura de pesadelo para, finalmente, terminar com esta sátira que, sobre uma ideia já preconcebida, põe fim a uma história cujos argumentos já conhecíamos. Sem agregar muito à ideia original, torna-se mais um episódio mais ou menos engraçado de aventuras espaciais bastante “geek”.
Em termos cinematográficos, nos deixa um pouco indiferentes, embora o tom televisivo (que, evidentemente, imita diretamente a série “Star Trek”) seja bem conseguido e tenha sua graça. Não há muitas alegorias a novas ideias em relação ao seu capítulo predecessor e, após este final um tanto decepcionante, nos cabe perguntar se haverá uma oitava temporada de Black Mirror, que parece estar perdendo as ideias revolucionárias para ser mais uma série que agrada seus fãs do que os surpreende.
Onde assistir “USS Callister: Infinity”